quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Seguir regras está fora de moda?

Esta semana me deparei com uma foto de uma pessoa que eu amo muito, médica recém formada, residente em um hospital do sudeste do país, realizando uma cirurgia, onde ela usava brincos e colar. Perguntei o que eram aqueles adornos em pleno um centro cirúrgico, e recebi a resposta de que “esta é uma regra que não se segue, felizmente ou infelizmente”.


Há quatro anos tive a oportunidade de ter duas amigas médicas, uma alemã, e outra espanhola, morando na minha casa por 4 meses. Elas conseguiram um estágio em um hospital público da cidade. Lembro-me do quanto elas comentavam destes pequenos detalhes que elas observavam nos hospitais, e o quanto elas ficavam pasmas e revoltadas com isso, principalmente porque os demais profissionais achavam tudo normal. Antes deste período no Brasil, o país ela para elas o país dos sonhos. Depois de 4 meses, virou o país para passar férias. Aí sim, ele era perfeito.

Sou farmacêutica, consultora, trabalho no ramo da indústria farmacêutica e temos de seguir inúmeras regras, investir milhões em áreas, equipamentos, matérias-primas, embalagens, estudos clínicos, treinamentos de profissionais, etc., tudo para provar à ANVISA que estamos produzindo medicamentos com segurança e eficácia comprovada. Bonito este termo... “Segurança e eficácia comprovada”...


Vamos a um hospital para visitar alguém, e alguns hospitais impõem regras de poder não entrar com isso ou aquilo para evitar contaminação. O objetivo é diminuir a infecção hospitalar. Perfeito!

Ao mesmo tempo, se formos às cantinas, refeitórios, ou restaurantes nos arredores, principalmente dos hospitais públicos e dos hospitais universitários (o que não exclui os hospitais particulares), é comum nos depararmos com profissionais vestidos com roupas de centros cirúrgicos, estetoscópios pendurados no pescoço, almoçando tranquilamente.

Escutar de uma médica, residente em cirurgia geral, que RETIRAR OS ADORNOS antes de entrar em um centro cirúrgico NÃO É UMA REGRA QUE SE SEGUE, dói, decepciona, pois não é culpa dela ela ter esta opinião. Ela é nova na profissão, é nossa esperança, mas já tem este ponto de vista, o que quer dizer que os mais velhos ensinaram isto a ela, e a muitos outros país a fora. E isto certamente não ocorre apenas com os médicos. Com certeza temos enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêuticos, etc., que trabalham nestes hospitais, e que possuem esta mesma opinião... Pois “esta não é uma regra que se segue”.

Decepciona e dá medo, saber que, no geral (graças a Deus tudo tem exceção, então, existem sim profissionais que “cumprem estas regras”) estamos sujeitos a ser assistidos por estes tipos de profissionais, e que a infecção hospitalar, nestes lugares, por mais que se evitem e se trabalhem inúmeras campanhas, ela nunca será realmente reduzida, pois os profissionais da casa parecem não fazer questão alguma de “seguir regras”... Talvez seguir regras esteja fora de moda, não sei...

A ANVISA, que tanto exige dos laboratórios e das indústrias, lança campanha para “higienização das mãos”... Como se somente isto fosse resolver o problema da saúde pública e diminuir a transmissão de doenças e, no caso do ambiente hospitalar, evitar a infecção hospitalar...

Os hospitais possuem CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar). Onde está a CCIH no momento de uma cirurgia, que não cobra um comportamento ético destes profissionais? Não conheço o trabalho destas equipes, mas o meu lado esperançoso torce para que estas CCIHs consigam exercer a sua função e ter sucesso nas suas ações.

As indústrias pagam grandes multas se um laboratório público, nas suas rotinas, verifica que um medicamento que no mercado está contaminado. Os hospitais não pagam multas porque seus médicos operam usando relógios, colares, brincos, etc., transmitindo tantos outros microrganismos.

É querido Brasil... Você tinha tudo para ser o melhor país do mundo para se viver... Mas está zilhões de anos luz atrás do que chamamos primeiro mundo. E tudo isso por que somos extremamente fracos em um quesito básico: EDUCAÇÃO.

Um comentário:

  1. Curti ;) É a mais pura realidade, minha cara. Assino embaixo.
    Jana

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